sábado, 31 de maio de 2008

Final

"Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."

Álvaro de Campos




Feliz

(Até sempre)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

'té já

não posso dizer adeus a lugares onde entrei para não ficar. fico na lateral, a dar a minha vénia a quem sai pela porta principal. até amanhã.

sábado, 17 de maio de 2008

.

Foi ver cair, pedra a pedra o abraço apertado de quando ainda tínhamos tempo para nos vermos nos olhos um do outro. Foi crescer a passos de mil palmos de mãos. Era tarde agora, hora de não ouvir ninguém. Era tempo de dar a mão fechada, de deitar tudo a perder por outra saudade. De deixar no trilho de terra atrás o passado bordado a ouro, de nos deixar a nós mesmos, a meio caminho. De deixar sozinho o corpo feito, a obra-prima de ser pequeno e de deixar nos braços certos o inventar de uma outra cor. E pedir que guardes tu o que nas minhas mãos não cabe. Guarda tu este chorar, este pedaço de pele pisada debaixo. Guarda-o ao peito, para lembrar. 


  "Na véspera de não partir nunca  
   Ao menos não há que arrumar malas  
Nem que fazer planos em papel...
Todos os dias é véspera de não partir nunca" 
Álvaro de Campos 

Choco--late

(adeus , boa viagem)


quinta-feira, 15 de maio de 2008

Isolation

O que eu queria mesmo era um céu sem limites, quatro ou cinco novos livros, música que nunca ouvi antes e filmes completamente desconhecidos. O que preciso mesmo é de teorizar, sem método nem regra.




Quero tanto ser, mas não tenho tempo.

sábado, 3 de maio de 2008

Autoretrato 9 horas da noite 3 de Maio de 2008

São treze mil trezentos e quarenta e sete passos
Que se dão do meu riso ao teu abraço mal dado.
E o túmulo de um beijo de que nunca chegou nada
Fica, até ele, a menos tempo da viagem.
Fica pelo caminho, aliás, esse Inverno pálido de neve,
Translúcido de doença, fica a palmo e meio de voltar.
E ai de quem volte.
O caminho fica por entre um Norte 
Apontado de mão tremida, e um Sul tirado à sorte,
É incerto esse lado-nenhum de toda a gente.
O meu caminho será outro.

Na minha história pequena, 
O caminho fez sempre parte
Do rumo que a chuva vinca 
Na terra mal presa.

terça-feira, 29 de abril de 2008

m

Se ao menos pudéssemos chorar de novo e limpar as lágrimas menos nossas, os nossos braços dar-se-iam para nunca largar. Mas não se chora assim. O choro é o peso que um abraço de adeus deixa em nós. O choro é um gesto que se esconde numa saudade qualquer, para não mostrarmos do que somos feitos afinal.

Prospero em pontas de pés para te tocar na ponta dos cabelos à noite pardos. “Faltou-nos tudo para ter tudo a perder.”, inventei. Fomos o triz, um amor, o quase, um retrato romântico fantasiado, para o qual olhámos sem nos vermos, traçado na cor do meu desdém.

Não sei amar mais, meu amor. Deixei o tempo tomar conta dos passos fundos no trilho de terra, 

e perdi-me à ida. 

Deixei esquecer que te amo e que não se ama assim, 

a cinzento-escuro. 

(num bloqueio criativo)

domingo, 27 de abril de 2008

Creep

Não cheiro mais a cor do chocolate nem me divirto com caixinhas misteriosas. Tranquei todos os meus baús negros a sete chaves. As mesmas que engoli quando deixei de ver as mil cores da vida e saborear a sua textura irregular.
Desde que desisti de seguir os carris que me levavam a ti, que joguei fora as pedras recolhidas em troços sagrados deixei de ouvir a nossa voz, o nosso choro, o nosso riso.
O abraço perdeu a força e o beijo perdeu-se em tamanho labirinto, tal como eu...





Fui, não sou mais...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Goldie


"Goldie, she said her name was Goldie."

Provei-te. Era meu desejo maior provar o teu vermelho sabor e teu cheiro dourado.
Foste fácil. E que bem soube essa facilidade extrema de te poder tocar, beijar, ter a mais louca madrugada da minha vida.
Não receaste o meu corpo marcado pelas garras da experiência, maldita. Não temeste a marca dos carris cravada em minhas mãos que tocavam a tua deliciosa pele.
Estremeci quando me murmuraste promessas eternas e acreditei, como um tolo, nelas para nunca.
Foi o êxtase de uma chuva de cometas vislumbrada num descampado cor do sol, como os teus caracóis. Foi o delírio de mil cores, formas e feitios, do rodopiar de folhas verdes numa estrondosa tempestade de Verão.
Paguei-te e foste embora, com todo o teu brilho de estrela apagada.

sábado, 19 de abril de 2008

paranóias


A saudade aprende-se, faz parte de nós aprendê-la. Deixá-la correr os pontos feios do corpo mal esculpido, é uma arte que devagar se vence. Eu sei sorrir num gesto feio, mas nos teus olhos não me vejo, e não sorrio. Sabe a sal esse cabelo negro, esse timbre insonso preto escarlate, esses lábios mal maquilhados pela chuva desperta.

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Chamo-me nuvem, se num poema pequeno. Tenho o sabor de uma avelã arrancada da raiz de um sabor satisfeito. E sou o que quiseres, porque me inventei assim. Dou-te a mão fechada e dou por mim a ver-te procurar-me dentro do meu gesto. Mas não me encontras. O meu corpo tem um preço que só a ouro se vende. Sou a puta da loucura, meu amor. 

E nunca, nunca aqui estive. 
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terça-feira, 15 de abril de 2008

24 T

Não fico por aqui. Rio em jogos de espelhos para não te responder, para não ver na tua cara o que imagino querer ver na ponta do meu sorriso. Falo-te de amor e respondes à letra com olhares bonitos, tudo-menos-inocentes. Deixas que fale sozinho para me deixar de querer ouvir, para me fartar da voz que carrego fúnebre sobre o pescoço desengonçado. Não me pedes nada, não dás nada de ti senão mãos vazias e punhos fechados. Invento caligrafias novas para mudar a escrita somente. As palavras hão de ser sempre iguais às que fiz por inventar sem querer. Há que mudar o corpo quando a alma é pouco para dizer de mim ao mundo que vim para ficar. Há que voltar a sorrir devagar, de olhos postos em nuvens que se prostituem por um lugar no céu. Há que amar depressa e ver que o amor foi culpa minha, que ainda vai a tempo o amar de outra forma. Há que ficar, há que nunca partir rumo a mais. Isto é casa. Isto tem de chegar.

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é a história que ninguém conta,

de que ninguém abre mão:

 amores não são círculos fechados.