Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."
Álvaro de Campos
Feliz
possession, insanity, revolt, passion, balance and chocolate.
Foi ver cair, pedra a pedra o abraço apertado de quando ainda tínhamos tempo para nos vermos nos olhos um do outro. Foi crescer a passos de mil palmos de mãos. Era tarde agora, hora de não ouvir ninguém. Era tempo de dar a mão fechada, de deitar tudo a perder por outra saudade. De deixar no trilho de terra atrás o passado bordado a ouro, de nos deixar a nós mesmos, a meio caminho. De deixar sozinho o corpo feito, a obra-prima de ser pequeno e de deixar nos braços certos o inventar de uma outra cor. E pedir que guardes tu o que nas minhas mãos não cabe. Guarda tu este chorar, este pedaço de pele pisada debaixo. Guarda-o ao peito, para lembrar.
Choco--late
(adeus , boa viagem)
Se ao menos pudéssemos chorar de novo e limpar as lágrimas menos nossas, os nossos braços dar-se-iam para nunca largar. Mas não se chora assim. O choro é o peso que um abraço de adeus deixa em nós. O choro é um gesto que se esconde numa saudade qualquer, para não mostrarmos do que somos feitos afinal.
Prospero em pontas de pés para te tocar na ponta dos cabelos à noite pardos. “Faltou-nos tudo para ter tudo a perder.”, inventei. Fomos o triz, um amor, o quase, um retrato romântico fantasiado, para o qual olhámos sem nos vermos, traçado na cor do meu desdém.
Não sei amar mais, meu amor. Deixei o tempo tomar conta dos passos fundos no trilho de terra,
e perdi-me à ida.
Deixei esquecer que te amo e que não se ama assim,
a cinzento-escuro.
(num bloqueio criativo)
A saudade aprende-se, faz parte de nós aprendê-la. Deixá-la correr os pontos feios do corpo mal esculpido, é uma arte que devagar se vence. Eu sei sorrir num gesto feio, mas nos teus olhos não me vejo, e não sorrio. Sabe a sal esse cabelo negro, esse timbre insonso preto escarlate, esses lábios mal maquilhados pela chuva desperta.
.
Chamo-me nuvem, se num poema pequeno. Tenho o sabor de uma avelã arrancada da raiz de um sabor satisfeito. E sou o que quiseres, porque me inventei assim. Dou-te a mão fechada e dou por mim a ver-te procurar-me dentro do meu gesto. Mas não me encontras. O meu corpo tem um preço que só a ouro se vende. Sou a puta da loucura, meu amor.
Não fico por aqui. Rio em jogos de espelhos para não te responder, para não ver na tua cara o que imagino querer ver na ponta do meu sorriso. Falo-te de amor e respondes à letra com olhares bonitos, tudo-menos-inocentes. Deixas que fale sozinho para me deixar de querer ouvir, para me fartar da voz que carrego fúnebre sobre o pescoço desengonçado. Não me pedes nada, não dás nada de ti senão mãos vazias e punhos fechados. Invento caligrafias novas para mudar a escrita somente. As palavras hão de ser sempre iguais às que fiz por inventar sem querer. Há que mudar o corpo quando a alma é pouco para dizer de mim ao mundo que vim para ficar. Há que voltar a sorrir devagar, de olhos postos em nuvens que se prostituem por um lugar no céu. Há que amar depressa e ver que o amor foi culpa minha, que ainda vai a tempo o amar de outra forma. Há que ficar, há que nunca partir rumo a mais. Isto é casa. Isto tem de chegar.
.
é a história que ninguém conta,
de que ninguém abre mão:
amores não são círculos fechados.