segunda-feira, 24 de março de 2008

As putas dançam slows






Abrem-se as portadas de velha madeira. Abrem-se luzes e mostram-se bocados de pele sem querer mostrar nada a troco de desejo pobre. Soa-se o perfume barato lá dentro, o ar que se passeia violento e o ambiente que afrouxa num gesto pesado, que repousa um silêncio imberbe e tímido apenas cortado pelo ocasional gemido. O recém-chegado vê-se então observado por meia dúzia de pares de olhos, cada um carregando a promessa de uma noite quente e aconchegada ao som de ecos da paixão efémera. Soam-se trompetes e tudo o que o pecado quer cantar de cor. As mesas redondas giram à volta de cinzeiros cheios. Mas foi num canto da divisão que o seu olhar ansioso se prendeu, uma sétima galdéria, a única de olhos desvendados. Parecia adormecida nas batidas do tambor ao acender gestos em brasas flamejantes. A sua cara era produto de um qualquer desvario artístico pós-realista, o seu perfume misturava-se com um outro de uma cigarrilha, dando ao ar um odor a pura sedução. Prova-se o fumo do cigarro barato. O nojo sabe bem e leva-se à boca para escorrer depressa. As portas fecham com o passar do vento, para esconder esta mulher que lhe pede amor em troca de uma dança. Contam-se histórias e palavras que pedem cigarros para provar à luz de negrumes tímidos. Guardam-se segredos para não contar nunca. Ela leva-o ao seu quarto para lhe mostrar de perto o pecado.

            A noite bocejava e o dia despertava tépido, os céus elevavam-se a montanhas de nuvens por florir, em tons de desejo e âmago exaurido. De expressão de menino e olhos inocentes deixou-se cair nesses rios de paixão, jogando a razão aos sete ventos pela força desta emoção inexperiente. O novo homem, olhou-a então bem naqueles olhos mergulhados em rimmel, fixou-lhe a expressão jocosa e tombou-se de joelhos. Em soluços de voz interrompida, pedia a puta em casamento. Ela riu. Riu da sua inocência, riu de incredulidade e riu de tristeza por ele não saber. Por ele não saber que as borboletas morrem uma vez fechadas na mão de quem não as deixa voar por si. Foram feitas para voar sem olhar para trás, as borboletas. Nasceram para não morrer sem antes viverem 1000 Primaveras. Ela pára de rir e cruza as pernas, a esquerda sobre a direita. O recém-chegado acende mais uma lâmpada para ver de perto a pele branca e cabelos negros como a terra fértil. “É filha de uma Lua”, diz de mãos trémulas ao peito, para dentro, sem ninguém ouvir. Olhos cor de amêndoa fresca, aroma de uma Primavera, de um orvalho húmido. Tem no corpo tatuada a bênção de um Deus maior e o hálito de um beijo morno para se dar em menino. Era a mulher perfeita, de certeza filha de um cosmos táctil ainda por palmilhar.

E quando o riso quebra, ela olha de volta naquele rosto imberbe e esperançoso, ela rende-se, deixa-se cair na palma da sua mão para nunca mais voar. Dá o último bater de asas. Responde-lhe que sim, “aceito”. Aproxima-se do ouvido dele, pergunta-lhe o nome. Ele diz não ter nome. Fora baptizado pela 1ª vez ao 1º beijo dela. Ela era a fé e o renegar dos pecados. Era uma puta como outra qualquer, mas que ele amara sem querer, sem esconder, por amor à poesia feita de olhos fechados, por amor à paixão ingénua. Pede-lhe que lhe fale mais ao ouvido, que lhe toque o corpo num toque de fazer soar notas de um piano em ouro bruto feito de teclas de marfim. Que lhe dê um beijo. 

Diz ser amor, diz que foi fugir da corda do elefante para cair nas grilhetas do amor… 

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(texto por: Charlie e Cabrita)


1 comentário:

Anónimo disse...

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