quarta-feira, 28 de março de 2007


Desejou que o tempo passasse.
Quis encontrar-se perdendo-se em ti. Sonhou-te como luz de presença através da qual era reproduzido um espectro multicolor. As cores mais fortes eram o vermelho e o verde, com um pouquinho de amarelo. Juntou depois as três cores e surgiu o castanho dos teus olhos. Com um pouco de preto surgiram os teus cabelos. Tocou a fusão dos dois castanhos como se fosse a tua pele.
Pôs Dave Brown no gira-discos e dançou contigo. As suas mãos apoiaram-se em tua cintura e o seu rosto deslizou sobre o teu. Envergonhada baixou a cabeça. Inspirou e sentiu o perfume de chocolate quente fumegar acima da mesa. Com tua mão sentiste sua peçe e fizeste-a olhar para ti. Rapidamente direccionou seus olhos cinzentos e brilhantes para o oposto da sala. E acordou.
Desejou, então, que o tempo passasse.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Azul veneza


Nasce assim um dia,
por entre o leito dos dias quentes,
pela solidão traçados.
O chamamento que surge é um eco
de outro dia, do dia em que
a dança do amor nulo se fez notar,
por entre as ruas e varandas do
teu amargo lar.

Num instantâneo sonho sem nexo
regresso aos ares da minha terra.
Regresso ao doce passar dos dias repetidos.
Volto à "casa" que em tempos
me acolheu em tardes vazias.
Volto ao mundo que um dia me criou,
que me viu nascer e brincar
com nuvens e fios de um universo por mim criado.

Regresso então a casa...
à casa da qual não tinha saudades.

Ainda há tão pouco me fiz entrar
pela porta de sempre,
e já não vejo hora de partir,
para a cidade que um dia me acolheu
nos seus braços protectores.

Porque nem sempre a nossa casa é o nosso espaço.
Porque nem sempre o passado nos deixa saudades.
Morre então o nosso dia, agora que tínhamos
tanto a dar ao nosso instável recanto,
ao nosso palco exposto...


Poema vencedor do Concurso de Poesia.
Escrito por: Carlos Silveira


O curioso de tudo é que percebi que o poema era teu logo à segunda leitura. Conheço bem a tua escrita, mais do que a ti, penso.

Mais um poema que nos petrifica de tão bom que é. Gostei mesmo (daí ter votado para 1º! ).

terça-feira, 20 de março de 2007

O que mais puro há de mim


quero voltar aos princípios não-humanos.
fazer parte do mundo menor
dos que rastejam por serem cães
soltos na alameda do mundo.
quero ter o faro divinal
e a raiva a correr nas veias.
queria tanto correr atrás de
mim mesmo pelo cair da noite...
queria que nascesse só para mim
o dia enquanto o dormir dos outros
lhes dá a cara de anjo sonolento.
Chorava pelo ter a máquina interior
a correr a uma potência diferente.
Somos parte de um mundo com fobias,
vertigens na avenida do céu.
Somos o precipício
e temos medo das alturas,
do voo frenético.

Ironia é uma vida melhor.
(direitos de autor -> foto por: Gonçalo Borges Dias)

terça-feira, 13 de março de 2007


Tu não percebeste.

Ouvia a tua respiração, mesmo de longe. Sentia a tua presença, mesmo de longe. Contemplava o teu olhar sem que percebesses. Amava-te enquanto suspiravas por ela. Queria-te enquanto pensavas nela, desejando que pensasses em mim. Chorava sem lágrimas para que não percebesses o poder que tens sobre um miserável ser humano. Ansiava tocar-te. Mas tu fugias. Teus lábios são como chocolate para mim, apetecíveis. Apetece-me GRITAR ao mundo o quão importante és para mim e no entanto permaneço silenciosa, como a guitarra encostada a um canto do meu quarto que outrora tocara alegremente a nossa música. Aquela música. Tento falar-te com meu olhar, mas tu não consegues perceber. Tento dizer-te que te amo, mas tu não queres ouvir.






Sei que a culpa é minha, mas sou só um ser humano.

quinta-feira, 8 de março de 2007

5 sentidos

Os perfumes confundiam-se.
As peles macias tocavam-se e o sabor dos lábios fazia-se sentir tão intensamente que nenhum deles o estava disposto a quebrar. A música de fundo era absorvida pela paixão sentida por aqueles dois corpos entrelaçados e completamente apaixonados, perdidos um no outro e no momento. A noção de entrega estava ali tão presente que temiam desorientar-se na escuridão da solidão, do silêncio e da perda. Receavam o profundo e misterioso precipício da dor e da ângustia que domina o Homem de maneira absolutamente avassaladora. A eterna fuga do desiquilibro que deitaria abaixo a fusão entre dois seres desorientados.
Quem ama entrega. Quem entrega perde. Perde quem não ama.
Eles optaram por v(iv)er juntos o filme sem cor, optaram pela entrega e perda. Optaram pelo amor.

domingo, 4 de março de 2007


Noites em branco
são estas que vivemos.
Noites passadas no alpendre
da mansão infinita do teu corpo.
A dança luminosa dos passos desencontrados
dá a forma ao vento
que a noite sopra.
O espelho que pisas reflecte
a imensidade da explosão
de vida que em ti ganhou balanço.
As noites em branco que passo
a contar ao meu ouvido
a nossa história de embalar
os mais pálidos rostos,
são incontáveis.
A origem dos sete pecados mortais
parecem ter todos origem na tua
penumbra, cujos traços,
a par da perfeição,
me deslumbram o olhar cerrado.