As nossas palavras perderam-se.
Fomos onde a noite se perde,
aos pontos de encontro de amantes
mórbidos e sinistros
e não sentimos nada.
Na nossa sala de estar, no nosso
profundo recanto cerebral,
temos lutas a perder,
os olhares indescritíveis dos rebentos
que por desejos deturpados,
focam o olhar no nosso viver.
Sente o frio harmonioso
que pela pele se propaga,
que com a luz do dia explode.
E tudo toma o seu estado sobrenatural,
o estático, com o olhar preso
às tuas expressões teatrais.
Fechas os olhos e passas então
as mãos pela angélica face,
para destruir as gotas de suor que te
dão o mais falso retrato de ti.
Sorri o meu eu, nas profundas entranhas
do meu ser pelo que sei, que nas gotas
de cansaço só vês o motivo para regressar
amanhã.
Quero ver por mim mesmo,
todo o mundo a mudar,
a madrugada do horizonte,
o acordar dos céus,
e quero-te no nosso palco amanhã,
para dar novo rumo aos 5 sentidos.
Amo-te e todo o teu ser rebenta em mim
os mais absurdos lugares postos a um canto.
Quero ver-te por mim mesmo,
e o céu,
e as ruas onde a noite se perde,
o horizonte numa moldura,
o mundo,
e o sobrenatural a correr pelas veias.
Não sei por onde vagueia hoje a mente, outrora
curvada e colada à pele que sustento contra a força do vento.
Sei apenas que foi nela que me perdi,
foi por ela que disse ter-te amado.
Se o ontem não foi puro
mergulha nos meus braços.
No nosso retrato, só a moldura nos apressa o fôlego.