quarta-feira, 30 de maio de 2007

Street Spirit

A beleza que se esboça linearmente
é tangente ao que quis ser num amanhã distante.
As ruas e as praças conimbricenses
são blocos de pedra amontoados,
castelos e fortalezas dos mais
poderosos deuses do Olimpo.
Doçura alucinante que me afoga
no êxtase da demência.
Amor, sabor que mais nenhuma
outra doença faz correr em nós.
Amor, sabor divino, elixir cristalino
da mente demente de toda a gente.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Escadas

A escada era em caracol e não conseguia ver o azul do céu. Comecei a subir e vi-te sentado, parado, estagnado. Não conseguias ver o fundo mas estavas perto dele e recusavas-te a procurar o topo. O meu ELIXIR de vida. Tentei fazer-te ver que o cansaço da subida compensava, mas não ouvias. Tentava explicar-te que o SENTIDO era crescente, mas tu desprezavas o que te dizia e permanecias. O teu problema é permanecer. Estagnar. Chegas a fingir e eu, não suportando o fingimento, fujo de ti e continuo, cansada a minha viagem, a chorar a tua perda e a morder-me de ódio e frustração.


Recuperei-te. Fico Feliz por nós.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Pinturas de guerra


Tento pintar-te com traços só meus. Quero dar-te cor, vida, sentido. Quero dar-te sem esperar receber, porque sei que não conseguirias. Sujo-me de tinta que custa a sair e por mais que tente extraí-la mais raiva me dá perceber que és uma macha, uma nódoa em mim. Não sais de mim. Não tenho o tempo para mim porque o meu tempo és tu. Vivo no sonho de te voltar a ter pertinho de mim. Estou longe, estás longe. Já não falo de nós. Já não há o nós. Desisto de te pintar, já te apagaste demasiadas vezes.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Uma Questão de Cor


Olhas por cima do ombro com ar de desdém. Tentas sorrir. É tão podre o teu interior que nem um falso sorriso consegues dar-me. És arbusto na vegetação que se confunde mas incomoda. És verde morto na minha cor e por mais tentar desenterrar-te mais sou engolida por areias movediças.
Deixo-te morrer. Um dia vais deixar de ser indiferente à vida e já foi tarde, já te transformaste em redutos de arbustos mortos. O vento passa por ti e usas as tuas raízes para não te deixares levar. Não dás nada à Terra e não tiras nada de ninguém. Só a mim: a Cor...

Hoje faltou-me Lisboa na sua essência. Faltei eu, também...

quarta-feira, 9 de maio de 2007

excerto de "glory box"

"...Perto da porta, tombo o corpo para a frente, encosto o mais discreto ouvido à porta que agora não range mais, que agora se limita a separar-me da besta que do outro lado, ainda com cheiro ao mais fumarento vício, espera. Faço então o esforço por não te ouvir respirar e concentro-me na brecha da porta, pela qual te vejo em tom de mágoa afogado. Ouço-te murmurar como uma criança cumprindo seu castigo, vejo-te comprimir toda a face numa expressão de nojo, de choro. Palavras que não me chegam para gritar de espanto por ver que bestas como tu choram, que também elas soltam o húmido gelar de uma alma.
E é o prazer que me percorre as veias a velocidade estonteantes, por ver agora que no nosso retrato, a tua silhueta é tão medíocre quanto a minha, por ver que estamos ambos em mundos que não criámos, que choram por ver que a estaca zero nos serviu de lar. Até à luz, seremos assim, até morrer terei esta imagem de nós, a de uma igualdade medíocre, sabendo que estive tão perto de te tocar, de passar os finos dedos pela tua cara para te dizer que, por mais que a morte te sirva de desculpa, temos ambos a pele nua à exposição da luz impura, à luz suja do mundo, da mesma forma, sem que sejamos os heróis imortais dos nossos rasgados planos. ..."
INSOMNIA

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Insomnia

não há palavras, não há sequer imagens que descrevam. não há discursos inventados nem a sanidade mental. só e apenas a puta da loucura, o ensaio da loucura no meu mundo louco. Há apenas e só a ausência de voz. não há palavras...


hoje tive um ensaio da loucura, um coma cerebral que explodiu em mim, estava numa aula de filosofia e explodi. tu viste, dalila. não há um porquê sequer.

existem somente vários, minúsculos pontos de encontro entre
personalidades
e banalidades
imaginárias,
brutalmente avassaladoras.


não há palavras, e se as há, não são estas.

há a puta da loucura, a duradoura insónia.