sábado, 29 de setembro de 2007

Mergulho meu, amor nosso

Fecha a porta.
Põe-me no meu lugar, onde possa
dormir o meu sono da meia-noite.
Mas não deixes entrar o vento com força,
antes que me faça tombar borda fora da nau
que parte rumo à terra-mãe
entre espaços brancos, pontos cegos do mapa.
O céu tem ponteiros que esmagam
estrelas cadentes que mergulham
no meu copo de vinho com vista para a já nascida lua nova.
Dito as palavras gastas, profano dialectos de outro poeta
para que a voz rouca se entregue na sonolência
de uma noite sem cheiro próprio.
Daqui vê-se o mundo, o ponto de partida.
Calcas o chão com os pés húmidos
e e eu não te vejo, a imaginação dá-me frutos
que não quero no meu prato.
A cidade dá-me sombras que me parecem as tuas,
a imaginação que evoco é o meu único ponto fraco.
Tenho saudades da carne que nunca te provei.
Sei sentir a falta da fatalidadede um amor a sangue frio.
Volto ao grau zero e sonho com o teu abraço,
munido de um relevo acentuado que nem
espadas num beijo de boa noite.
.
Olha-me nos olhos,
jura pelo nosso amor
e mente-me,
diz que nunca me traíste.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

?

Ontem brilhei num espoente
geométrico calculado no rigor
das ondas do teu vestido
vermelho de envergonhado.

Hoje acordei, senti-me gente,
despertei numa insónia incolor,
que me traz raso e repetido
num adeus já terminado
(num beijo quase perfeito.)

?//Houve um sussurro da distância
que se nos dita, esbanjado.
Representei o amor de um actor
que se imita, num acto de pecado. //?


Já sei amar com A grande

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Adeus Tristeza

Somos humanos,
Demasiado humanos.

E tudo o que temos,
Não é suficiente para afastar
O frio que se entranha na casa.
Em toda a nossa casa.
Casa é o tempo que passa,
Armadura de ferro
Que se desfaz
A passos de caranguejo.
E estou tão cansada de ver planos
Sempre a deslizarem em contra mão.
Apetece-me parar a cidade,
Para te segredar, “hoje,
Parto sem ti.”
Não o fiz.
E fiquei ali, de longe
A contemplar o mundo
A perder o seu peso.
Quem me vê,
Pensa que abraço saudades.
Saudade? Saudade é apenas uma porta,
Sempre aberta,
Nas traseiras do mundo.
Soltei as amarras e dei um tiro no escuro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

perdido num regresso a porto seguro

Escrevi o texto mais longo na tinta gasta do meu leque de eufemismos. Prolongo-o à tua ausência, ao quarto imóvel onde vivemos a surdez dos amores perfeitos, ao sofá de lençóis velhos com as tuas ondas marcadas no relevo do tecido, à mesa onde espalhámos poemas a tinta vermelha do teu baton tremido, às paredes que gemem de frio fora de contexto, à porta que te esqueceste de fechar e que espanca o vento em guerras frias contra a perpétua inércia do que é ágil no movimento estático. Tudo é desproporcional num rigor estético de beleza arcaica onde o amor é uma única palavra proíbida. O caos é o grau zero, a etapa nula de um romance ainda sem enredo linear. Tenho mil vontades e mil vícios por matar num jogo sujo de olhares baços. Tento ser o frio que corrói o gelo em momentos discretos de arte, na acidez de um beijo nos teus mesmos lábios trémulos, vermelhos de pecado. Quero ser tudo menos eu. Sonho ser o encaixa de uma letra no teu nome. Dá-me um papel, uma última deixa. Eu decoro-a. Juro, de joelhos enterrados na areia que me prende os músculos, ser capaz de decorar as minhas últimas palavras.

sábado, 15 de setembro de 2007

O amor é um lugar estranho

A chuva esculpiu cores talhadas no rigor
divino de uma mulher.
Eu dancei na inocência de um peso no corpo despido,
e não sei onde dança a poesia no seu passo.
Não sei se na força de outros laços desfeitos,
se no nosso amor final.
"Aprende-se a dizer saudade"
na fuga de palavras ausentes do que sinto
que têm este mesmo sabor doce de mastigar.
Mas nunca cortámos ventos com um só jogo de palavras.
Nunca.
Amar é um verbo só
mas amar-te é um eufemismo que me desliza nos lábios.
Pinta-me de preto e faz-me a noite.
Amar-te no escuro
é o plano de uma vida.
Arde, mas sugo a distância
num fechar de olhos.
.
"Eu já trinquei a maçã, deixei-me olhar a fundo..."
.
i'm lost in translation
não há palavras a negrito,
não há nada a salientar...
tenho tudo na nudez crua, tudo o que ainda quero dizer.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

pontos de interrogação

Eu vi-a num sonho,
pálida como florestas nevadas,
como plantas chuvidas e levadas
no vento que dança tristonho.
.
Guardei-a num perpetuar irreal
e beijei-a num sonho a lembrar,
levitei nos espaço intemporal
para ser alto na hora de recordar.
.
E aprendi a escrever amor,
pela mão da tua caligrafia.
E aprendi a girar no esplendor
da tua aura numa velha fotografia.
.
Alguém escreveu pela minha mão
que saudade é a minha terra-mãe
e olho no horizonte uma nova paixão
um mar meu que como tu, parte, volta e vem.
...
(se amar é um paraíso secreto,
o teu corpo é reduto melhor)
fim

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Compilações II

Resolvi quebrar o efeito da página em branco: chega. Mas nada me ocorre, na verdade, nada ocorre. Do lugar de onde venho vê-se pouco, nem sol nem estrelas… E faz tanta falta planos de 180º. De onde venho ninguém quer tirar a venda dos olhos, afinal, o que se vê sem ela não é muito mais.
Tirei a minh
a há uns dias… E reparei: o mundo estala em todos os pontos. Em breve não passará de ruínas, imundas de solidão. Hoje reparei, mas penso que mais ninguém o fez. Então porque choram eles? Nasci demasiado tarde para perceber gente. Gente só. Nada de laços. Toque. Amor.
Fim do dia. Dói, tudo quanto é visível. Aperto a venda, desta vez com bem mais força. Passou a oportunidade de poder alterar rotas ou idealizar planos, findou a mudança. Amanhã acordo, o mundo ainda não quebrou. O movimento passa para outro alguém. Só está. Impasse, tempo, perda. Acaba tudo, mais uma vez. E o movimento passa para outro alguém. (Não) Quero adormecer.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

amo.te?

1. Prólogo







Libertámos estrelas com um simples olhar...
O cristal da neve, o espantoso levitar.
Em volta o gelo e o fogo a queimar
No centro de tudo, nós dois a sonhar.
Duas luas, tu e eu, faces do mesmo pensar!
Se o sonho cresceu em nós, vamos deixa-lo ficar
Não vás...

Se parasses por um segundo
inventaria palavras para
preencher espaços onde me escondi.
Não faz sentido ir para onde me levas,
mas ser levado na tua distorção
é saber amar por mais segundos que dure.
Interrompo-te num beijo para o sentir
correr outra vez, o Inverno quente
e uma paixão por florir.
Fica mais uma noite,
quero ser poeta mais uma vez.

2. Prazeres Finitos











Demorei mais que a tua eternidade
a amar o preto que a noite tem,
e o verde escuro que mais nenhuma janela nos dá.
Mas foi no vermelho da tua aura
que despontei a melhor visão,
a que a arte nos nega.
a perfeição a mil dimensões,
vermelha com nenhuma outra cor.

As palavras escolhem-se
para contornar a flacidez do momento ácido.
A nébula esconde a lentidão
de todos os gestos do que é colossal,
de ombros dados com a fuga mútua de duas poesias
divergentes, unidas na sede de
umas últimas palavras.

Aquilo que passei mil noites a sentir,
a mastigar num olhar frio,
vi-o escrito em paredes.
O poeta quebrou o sigilo,
corre já nas ruas que amar
é droga bem melhor que o sonho.

Arranco esmolas vadias
no girar de novos vícios
que me proponham novas géneses.
Eu pensei ser melhor
que reviver as nossas noites frívolas,
noites escassas, passadas num ponto de encontro
onde as nossas mãos dadas tombaram rumo
ao inocente erotismo de dois corpos
virgens de cor.
Aqui entrei e nunca mais saí, pois tu fugiste com a chave


3. Quebrar do Espelho

Partimos espelhos, estrelas, luas e cometas!
Violada e mal usada, seca a tinta nas canetas...
Musicais notas de pauta, ecoam no vazio
E o delírio velado, flui em nós como um rio.

Porque foi que isto nos aconteceu? Como pôde o nosso Mundo virar-se assim contra nós, qual onda furiosa em busca de vingança, orlada de espuma, sangue e confusão? A acidez da solidão devassa que nos consome o lar, partilhado não só por nós os dois, mas também pelo imenso vazio que nos escolheu para se alimentar. Talvez os teus olhos já não percorram mais essas imensas ruas onde tanto nos perdemos, com medo de encontrar o que nunca achámos.
Pequenas pedras rolavam a teus pés. As águas, ora turbulentas, ora calmas afastavam nossos sonhos em perfeições transparentes. Sorrias para o infinito, para o oco do teu ser. Eras uma concha vazia, cheia do nada do meu ser. De longe, eu adivinhava a profusão de sentimentos que se agitavam no teu olhar. E agora contemplas calmo, as águas do teu passado, que se agitam em mim como a mais violenta tempestade, arrastando consigo toda a sanidade e expressão. Quero não pensar na dor para não a ter que sentir. Quero-te.

(- O que é que isto significa? Isto de, não dizermos nada, de não haver nada a dizer...
-
Há tanto a dizer... tanto!
- O quê? O que é que será certo mostrar agora? O que é que diria o poeta no meu lugar, quais seriam as palavras certas agora?
-
Para que te interessam as palavras certas, se não te pertencem? Não as roubes, não uses um discurso que não seja teu, que não sintas...não te martirizes com desejos de súbitos rewinds milimetricamente estudados.
- Nem sei que te dizer. Que queres que te diga?
- Nada, não digas mais nada. Adeus. )





post idealizado e concretizado por Insomnia e Amora


domingo, 2 de setembro de 2007

Contos

Chamo-te em silêncios afogados por lençóis de paixão e desejo. Sinto-te. A madeira range à passagem da tua imunda alma, carregada pela tua gasta figura. A tua silhueta estática invade-me o olhar. Aproximas-te. Minha mão encontra-te como pena. Viaja em ti. Com teus doces lábios acaricias-me. Na colisão de dois corpos perdidos pecamos, uma vez mais, sem qualquer réstia de arrependimento. A sincronia é autêntica e, enquanto entrelaçados. Perco-me em labirintos de sonhos e ilusões e provo-te. Tudo o que resta de nós é ponta de caneta gasta depois de findar o conto perfeito.


(a recomeçar...)