quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Naufrágio

Desajeitado,
Sinto-me,
Enjoado,
Num barco
Navegando.
Deriva
No tempo,
Espaço
Ou tempo,
Não espaço.
E o barco,
Enquanto navega
Pelas dores
E desamores
Ou amores,
Enjoa,
Desajeitado,
Como quem sente
Uma casa
Na ilha.
Lados,
Ângulos,
Procuras,
No espaço.
Gritar,
Calar,
Por gosto,
Por medos.
Medos
Nos sapatos
Rotos,
Com ratos,
Roendo os
Dedos,
No convés
Do barco,
Enjoado
E desajeitado.
A casa
Do tempo
Na ilha
Gemendo
De gritos,
Gritando,
Girando,
Perdido.
Perdido na casa
Do barco
Enjoado
E desajeitado,
Temendo
Pelos desamores
E dores
Doentes
Da doença
Da casa
Do barco
Enjoado
E desajeitado.



(imaginação retirada de Molero: www.oquedizmolero.blogspot.com)

domingo, 11 de novembro de 2007

Caixas de Fósforos

Procuro na intensidade do teu olhar um segredo. Tento abrir os mil e um cofres que te recusas a mostrar-me na esperança da verdade que quero ouvir, da ilusão que tomo por certa na ânsia de alimentar os meus podres e grandiosos sonhos. Passo a minha mão pela tua num gesto discreto, figura leve, para te sentir, o teu calor, a tua suavidade, o teu mistério. Sim, cheiras as mistério. O perfume que emanas leva-me à dimensão de três portas (aquelas três malditas portas). O teu odor percorre-me e é tão suave que não consigo evitá-lo. Não consigo evitar o que sinto. Toda esta estranheza e novidade são tão típicas do meu nada que o sonho não é mais um sonho. É o nada fruto da minha imaginação. É, e será coisa nenhuma, porque ao nada nada pertence.





"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Fernando Pessoa

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Rest My Chemistry

Deixar a anatomia ser,
Descansar no teu beijo
Cíclico, olhando pelas brechas
Do meu único vício chorado.
Ter a alma em duas mãos
E benzer o mundo numa praga
Como “amo-te”.
Ver as novas formas do retrocesso
Em câmara lentas supersónicas,
E espiar a noite à espera que se dispa.
Passei mundos num só momento,
Num só fôlego alinhado na mesa
Em que me dou a perder para o mundo.
As coisas ganham vida quando te amo
E me calo no teu beijo.
Há uma palavra por detrás de cada
Silêncio premeditado,
E só eu sei o que te digo
Quando não te digo nada.
.
(Tanto por tão pouco)
(E um dia tão longo não serve para te esquecer)