quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Cartas de um Viajante

a história de um só amor em 3 mundos diferentes...
(hoje, quase que cheguei na tua presença, mas já tinhas partido)
1.Veneza
Cheiros despertam nos mais mil efeitos,
Em carreiras, em danças pelos mil canais.
Nos acordes de acordeões ou em passos perfeitos,
Vejo-te sempre escondido em mil mundos ou mais.

Por pianos que ressoam ou por ti, escorres no carpido.
Sou mulher triste, mulher tua para esta eternidade,
Sou acorde de uma melodia que vive na dança do meu vestido.
Ao longe, vejo Veneza, no arco-íris que chora por já ser tarde.

Evoco-te na ímpar cor que não esqueço,
Na fuga da beleza em portos de rios de tristeza…
Juro amor eterno e memória ao imortal Azul…
O meu Azul Veneza.
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Prescrutei o fundo dos canais em busca de pedras brilhantes,
corri a meio passo com as pernas afogadas no teu rasto de lágrimas,
com os peixes a beijarem-me as pernas e o toque da fria pedra
a desejar-me boa sorte. A cada passo levantavam-se mil poeiras no ar, fragmentos de bons sortilégios por ti despedaçados. Agiganto-me nos canais fazendo abanar a proa e aumentar a temeridade do pequeno motor humano desta canoa, mais uma vez a asusência me visita, arrasta-me para o fundo do canal, faz-me respirar as lágrimas da tua dor e eu sem guelras sou todo ele temor. No fim o motor humano fica sozinho naquele pedaço de céu de madeira, enquanto que eu segui a tua ausência no rasto sufocado até á cidade das cem cúpulas.
2. Praga
Praga, mulher bela, cidade dourada, mundo de ruas,
Onde a voz que escorre pontes sou eu somente.
Palácio descomunal das cem cúpulas suas,
Centro do mundo vivo, a vida de outra gente.

Enchente de monumentos, presos no que é arte,
Pêndulos dos céus, relíquias de uma história.
Num talento de Petrarca, quebrar o mundo numa parte,
Guardar o resto e trocar-te na memória.
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Tentei ouvir o passado eco dos teus passos, segui o nada no ar deixado por ti.
Esquivei-me á pestilência, ao som dos teus podres dejectos e ao cheiro dos teus gritos de dor.
E aí, a ausência chegou. Mil cópulas se abateram sobre mim, tu não estavas aqui.
O peso da pedra lapidou as minhas entranhas de forma horrenda e perdi-me no labirinto acopulado deste triste destino, o destino que se deixou vergar perante a emaranhada trama de mil e um mal entendidos, este flácido destino de Petrarca. Libertei o amor e atirei-o aos quatro ventos, espalhados pelas mil rotas comerciais, estradas de mil alentos. Mil é o infinito e mil vezes te amei. Mil é o infinito e so lá te encontrarei.
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3. Paris
Extingui a alma do mundo numa vida só,
Fui corpo e alma de um novo, Paris.
Na sua imponência magnificente de ser pó
E de ter as cores do mundo quando sorris.

Em arcaicos aromas, em luzes tácteis belas,
Em mil sombras de cores espelhadas,
Nos mil raros rios, nas mil patentes janelas,
Vejo-nos amantes falsos de mãos dadas.

No teu aroma, na límpida gota que geme,
Le moment est parfait, Paris, je t’aime...
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Persegui o rasto do teu cheiro, farejei as tuas pegadas, segui o teu curso fugidio
num dia de sol brilhante e sombras sombrias projectantes. A tua ausência degolou a minha
esperança com o toque do vazio afiado e ferrugento na minha alma. Prostrei-me de joelhos perante a torre eiffel, os olhares rotundos rodeantes julgaram ver parafusos ferrugentos no chão desarrumado, pedrinhas fora de sítio, lápides das pequenas formigas vermes da mente destroçadas pelo ousado turbilhão do nada. A ausência escapuliu-se com um rasto tibuteante, um traço de cor no espaço, num universo do teu som taburilante. Empacotei-me e segui-te até a cidade dos rios.
é sempre um quase que nos distancia para segundos planos...
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Texto realizado e idealizado por:

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A morte de uma poesia

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Esperam-me dias fáceis de doer,
por entre lugares que brotam em mim
no descontrolo de um nascer final.
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Eu prometo não saber como
voltar de onde nunca parti.
Amar-te mil vezes e guardar
somente a única em que saí num
brilho que não recordo há eternidades.
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Eu prometo não ter nada a perder.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Videotape


Não brinques com os olhos do mundo,
não deites fora luzes das mil cores infinitas.
Todas te dão sombras em pontos melódicos,
todas me tocam nos ecos do que é efémero.
És o escuro e a inversão da maravilha incrível,
és a história mentirosa que ouço desde menino,
mas que me conto em noites difíceis de adormecer.

Não sei o que é lento e me corre sem saber escorrer pelo corpo fora e dentro, ao meu mais longínquo fundo, é sempre tangente à translação dos nossos choques supersónicos para um papel ainda branco.
É demente e para sempre a criação das nossas mortes que nos dão forma e cor,
e desejo de voltar sempre atrás.
Eu não esqueço,
Eu não volto atrás.
Eu simulo só que sei do que falo.
E sabe tão bem fingir quando adormecido nos
teus braços redondos que me prendem para nunca mais soltar

segunda-feira, 22 de outubro de 2007




«Enquanto o chá aquece gosto de pensar na vida.
Gosto de pensar se tenho vida.
Gosto de pensar se estou viva.
Gosto de pensar se sou a vida, de alguém.
Enquanto o chá aquece, penso.
E enquanto penso o chá escapa do bule.
E enquanto o bebo, lavo cada pedaço de não vida da minha vida

(Patrícia Bejinha)
comum, demasiado comum.

sábado, 20 de outubro de 2007

Carris

São eles que nos
prendem.




Caminhamos de mãos dadas, rumo ao mundo que nos aguarda e teima em se esconder de nós.



Fotografia por: Lena Monteiro

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Amores de plástico

Não sonhei por uma noite,
Acordei no meu primeiro madrugar
Em cidades de plástico, cidades
De luzes falsas, de sombras ténues,
De monstros imortais que nos
Ensinam a amar na arte humana.
Pisar traços em passos tortos,
Em desejos desfalecidos,
Em tempos errados,
Com o meu corpo,
A minha vontade.

Não sonhei por uma noite.
Não mergulhei em mim,
Não soube sentir, de novo,
Pela última vez.
Não dormi por uma noite,
Vi a cidade nascer,
Crescer em câmaras lentas,
Morrer nas minhas paisagens.
Não sonhei por uma noite,
O mundo acabou e queria-te como
Última memória.

domingo, 7 de outubro de 2007

A Felicidade Vem do Compromisso

"A felicidade vem do compromisso. Alguns pensam que não, que uma pessoa mais solta, sem ligações nem obrigações, é mais feliz! Será? Ela faz o que lhe apetece e não o que quer. Fica escrava das ondas, das emoções, vai para onde puxa o que 'está a dar' e não para onde quer e deve. Estar solto não é o mesmo que ser livre. E comprometer-se livra-nos da escravidão das fantasias e dos apetites. "

Vasco Pinto de Magalhães


Faz demasiado o sentido.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Conta-me histórias











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Há mundos verdes sabes? Há mais cor para além destes tons cinzentos. Onde se respira, onde se dança sem ter medo das luzes que nos focam que nem pirilampos em caixas fechadas. Há um mundo para além do muro.

Há? e pode-se viver aí para sempre?

Aí tudo é eterno menos tu. As flores nascem e o sol explode num espectáculo de cores brilhantes. As pessoas dançam, a calçada é feita de pedras raras, a luz é espelhada em todos os corpos, as pessoas são feitas de vidro que não parte. Mas, certa noite, voltam, têm de voltar.

Onde é esse sítio?

É um ponto cego do mapa. É o paraíso dos amores perfeitos. Não é um ponto parado, gira e gira que nem a noite no escuro.

E tu já lá foste?

Não.

Então como sabes tudo isso?

Não sei.

Oh, conta outra história...