terça-feira, 10 de julho de 2007

Tudo em vez de ti, nada no meu lugar

O que me é distante
surge como único poder,
liso como o céu em divino transe,
como insónia feita de linha a desfazer.

Sirvo de lar a quem não me venera,
a quem no meu corpo vive o morno dia.
Vivo feito de carne e espera,
perdido de memórias que sentia.

Percorres então a distância
do meu longo triângulo escaleno.
Aquilo que senti sem exuberância,
escrevi-o hoje, num poema pequeno.

Leva um pedaço de
mim para o sonho
que é amar o
homem sujo de o ser.
Leva
tudo o que julgava ser meu.
Leva
e não me tragas de volta.
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Quero-te, porque o paraíso não me chega.
Amo-te porque... era impossível negá-lo.
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(o próximo post será o número 50 de maneira que pedimos aos que regularmente nos visitam, para oferecerem sugestoes e para intervir directamente no post. Muito Obrigado por tudo)
(foto por Graça Loureiro, in Olhares.aeiou.pt)

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Genesis

Pari o puro nojo,
Errado no fundo de si,
Desleixado num
tronco em riste.
Pari a noite,
Pari a puta da estrela vermelha
Que me dá lume no arder da carne.
Pari o medo arrepiante
E a doce loucura.
Pari o meu berço,
O mundo enorme e
O universo minúsculo.
Sou filho de mim mesmo,
Obra minha.
Pari a anatomia
Das luzes negras
E o teu corpo inodoro.
És um monstro
Assassino de prazeres
Incolores
E o êxtase de tudo o que é meu
E não me pertence.


(foto por Mel Gama, in Olhares.aieou.pt)

terça-feira, 3 de julho de 2007

Selling the soul

Eu estava escondida. Abusei da escuridão e observei-te de longe. Ousavas esfaquear aquele sujeito, que dava pelo estranho nome de Amor. Via-se vermelho nos já gastos lençóis. Seguraste um cigarro no canto dos lábios e acendeste-lo com o fogo adormecido a teu lado. Olhavas com um falso desdém para a noite passada, tentavas em vão diminuir a dor do teu reflexo. O medo apoderava-se, aquele medo de não poderes fugir de ti. Mesmo assim, olhavas-me do alto desse estrado, demonstrando toda a altivez que já te era intrínseca, como havias mudado! Descobriras-me. Odiavas-me com todo o teu ser e procuravas-me culpar pelo teu fracasso, pelo teu adultério, pelo teu plano falhado. Acabaras de arranjar alguém em quem depositar todos os esquissos de mapas. As alturas em que me olhavas cego de raiva, contrastavam com as que me olhavas com aquele olhar ameno. Encaravas a felicidade como uma utopia, quimera inalcançável. No entanto, em todos os recantos desse teu espécime, bússolas procuravam a incessante estrela. És uma contradição de ti mesmo. A insanidade apodera-se de ti e deixas-te dominar por completo. As fortes amarras deixam-te marcas notórias, semelhantes às por ti deixadas no chão. Sim, deixaras cair sangue… Mesmo assim cheguei a horas de te abraçar, de dizer que pode ser de outra maneira. Recebemos a tão ambicionada dádiva, deram-nos o tempo que precisávamos para limparmos todos os indícios do que se havia passado naquela escura noite. Fizemos o crime perfeito.



[Chocolate e Volcano]