segunda-feira, 17 de setembro de 2007

perdido num regresso a porto seguro

Escrevi o texto mais longo na tinta gasta do meu leque de eufemismos. Prolongo-o à tua ausência, ao quarto imóvel onde vivemos a surdez dos amores perfeitos, ao sofá de lençóis velhos com as tuas ondas marcadas no relevo do tecido, à mesa onde espalhámos poemas a tinta vermelha do teu baton tremido, às paredes que gemem de frio fora de contexto, à porta que te esqueceste de fechar e que espanca o vento em guerras frias contra a perpétua inércia do que é ágil no movimento estático. Tudo é desproporcional num rigor estético de beleza arcaica onde o amor é uma única palavra proíbida. O caos é o grau zero, a etapa nula de um romance ainda sem enredo linear. Tenho mil vontades e mil vícios por matar num jogo sujo de olhares baços. Tento ser o frio que corrói o gelo em momentos discretos de arte, na acidez de um beijo nos teus mesmos lábios trémulos, vermelhos de pecado. Quero ser tudo menos eu. Sonho ser o encaixa de uma letra no teu nome. Dá-me um papel, uma última deixa. Eu decoro-a. Juro, de joelhos enterrados na areia que me prende os músculos, ser capaz de decorar as minhas últimas palavras.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ai o pá...tu nao paras de me surprender, mais uma vez post altamente altamente altamente!!!!!!!

Lídia disse...

Great success!

Anónimo disse...

' vivemos a surdez dos amores perfeitos ' muitas vezes e outras tantas que não queremos ser nos...