quinta-feira, 7 de junho de 2007

Delírio. Loucura.

Não percebia. Era tudo tão estranho... Já não havia nada entre eles... Não. Não eram ciúmes! Era medo. Tinha medo. Medo, mas de quê? Hum.. Medo de ser esquecida. Sim, era isso.. mas não era só. Achava, não tinha a certeza, ter medo dele sofrer. Tinha medo que ele sofresse com a outra como ela já o fizera sofrer. Mas ela não tinha má fama, não. Ou teria? Hum.. Como a outra, não de certeza. E, se tinha a fama não tinha o proveito, enquanto que a outra tinha. Ou não? Agora reflectia. Preferia pensar que sim. Era mais fácil... Sim, iria pelo caminho mais fácil. Mas detestava isso, apesar de ter que ser. Desta vez tinha que ser assim. Sim, sim... Ela, a outra, era má pessoa. Ia fazê-lo sofrer. Não eram ciúmes, não. Era preocupação. Enquanto ouvia o que dizia ao preparar o seu almoço achou-se egoísta. O que ela queria era que ele gostasse sempre dela. Não! Disparate! Não era má até esse ponto... às vezes era mazinha, sim, mas não queria a infelicidade dos outros. Não, até porque ela própria tinha deixado de gostar dele. A sua cabeça anda já noutra nuvem, mas de facto aquilo incomodara-a. Hum... Era algo que a perturbava. Parecia louca. Estaria a ficar louca? É isso! Estava a ficar louca, claro. Estava a falar sozinha, a extravasar sentimentos para as suas amigas cenouras. Por momentos pensou em atirar-se pela janela. Já que estava louca podia voar. Os loucos voam, não voam? Todos os loucos se atiram de janelas para voar. E sorriem quando voam. Mas voam! E sonham também. Nunca se tinha lembrado disso. Os loucos sonham mesmo. Ela não sonhava. Quer dizer, às vezes sonhava, mas eram coisas tontas... Sonhava encontrar-se com Fulano ou Fulana. Sonhos parvos. Sim, parvos. Sonhos de pessoas não loucas. Ela queria ser louca. Gostava mesmo de ser louca. Como é que ela conseguia ser louca? Hum... Não conhecia ninguém que quisesse ser louco, não conhecia ninguém que quisesse sonhar. As pessoas eram tão frias. Não gostavam de sonhar, dizia uma amiga dela que quanto mais sonhava mais triste ficava quando chegava à realidade. O melhor era não haver realidade. Exacto. Ia viver o sonho. Porque não? Uma vez vivendo o sonho este passava a ser realidade. Hum... Mas assim deixaria de ser sonho. Que maçada! Nada era como ela queria... Queria ser louca. Queria sonhar. Queria voar. Lembrava-se agora da outra. Porque é que a chamava a outra? Figura ridícula, a dela. Não era outra nenhuma. Não era outra, só era, mas não a outra. Ai! Que confusão. Estava mesmo a ficar louca. Boa! Será que tinha conseguido? Hum.. não. Acabara de se lembrar que os loucos não admitem que estão loucos. Então ela não podia pensar que estava louca. SHT! Foge pensamento parvo. Estás lá agora louca. (Estou a ficar louca!) Não!! Estou perfeitamente sã. Nenhuma insanidade de apodera de mim. Nenhuma. Nunca estive louca, nunca ficarei louca. (será que já consegui?) Não estava louca. Mas agora, iria apagar o fogo do fogão. Perdera a fome. Iria sonhar. Sim. Dormir e sonhar e quem sabe voar. Depois. Mas só depois. Primeiro iria sonhar.
Boa noite.

10 comentários:

Anónimo disse...

Brutal, tão tue, potente, fiel mesmo brutalmente honesto, Bestialidade em tinta (se fosse escrito com caneta). Coiso e tal ja sabes meque é, gostei.

Anónimo disse...

eu gostava tanto de ser louco.

Anónimo disse...

mas não sou.

Anónimo disse...

E se fossemos todos como a D? (só sendo louco posso estar a dizer isto, ng te chega aos calcanhares, eu sei que nao o queres admitir e fazes bem mas eu faço questão de te lembrando isso..)

sabes bem o que acho do texto, é tao.. natural.. from the heart&mind to the keyboard.
puro chocolate fino, Cadbury's, aquela classe em cada letra e cada sinal

Tangerina disse...

texto lindo ... talvez n o consiga ver apenas como ele por saber o que lhe fica como fundação ... de qualquer maneira gostei*
e sim ... como nós ...
como nós, dentro de uma noite quente de Palma... com uma guitarra louca e uma voz rouca ... como nós ninguém voa ... ninguém!

Anónimo disse...

se eu fosse louco, o que fazias?! xP

o texto está mesmo lindo pá!

Porque não começas escrever um livro?! xD

Bom dia!

Anónimo disse...

Pensamentos. É como ler o que penso, é isso mesmo, mil e uma coisas a passarem-nos na cabeça, girando essencialmente à volta de sonhos e razões para tornar real algo que nunca vai ser, pois irá ser sempre sonho, como tu dizes. Boa reflexão.

Anónimo disse...

( Ah, a parte inicial... Pois, faz sentido, faz sentido. Já falámos sobre isso, e concordo: ciúmes não são. Enfim, tu sabes Dalila, tu sabes )

Frankie McMurphy disse...

Loucura...

O insólio estado de mente que faz a diferença entre tudo e nada...

Que nos permite ser felizes embora 'limitados', estou como tu, queria ser louco...

Anónimo disse...

Gostei. "Confuso" mas compreensivel...objectivo! Esta lindo. Quando crescer quero conseguir escrever desta maneira. :D