segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Hora Maldita

Sentei-me no escuro, na palma da minha mão. Com a máquina de escrever pela frente, parei de brincar e abri os olhos. Fiz pouco barulho ao bater com as portas de raiva, tive medo de te acordar, um piso abaixo, só um piso abaixo. Ando em palmas de pés até à janela e vejo pouco mais que a tua luz acesa. Encosto o ouvido ao chão e não te ouço respirar pela madeira podre.
Tenho vozes na cabeça e pouco me resta senão que gritem. Quero ter vozes na cabeça e saber de quem falo quando te digo que te amo. Elas não falam mais comigo, senão por mais um pouco. Volto à máquina de escrever e puxo pelo primeiro resto de voz. Hoje, não falar, é crime. A noite vestiu-se para me ouvir cantar sobre a alvorada por acender. Larga-me a mente e sou tudo menos meu. Tenho as palavras pelo gosto à vontade e o desejo de uma prosa melhor que esta. Acordei a cidade, amar-te era demais para só eu saber.
Adormeci sobre o peito e acordei a dançar sobre a mesma madeira, espreitando pelas mesmas portas e vestindo a mesma noite de ontem. Precisava de escrever uma carta de amor à luz desta lua. Ela esperou por mim e eu não notei. Não notei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muita fixe o texto! Ja te tinha dito ;)